.: Let yourself be the rythm

18 março, 2006

02.02 | Outburst & Design Emotivo (version 2.0)

O projecto Outburst nasce da tentativa de disponibilizar às crianças um meio de elas expressarem a sua opinião e os seus sentimentos. O processo de criação deste projecto passou por uma série de etapas, que consistiram na tentativa de perceber como as crianças funcionam, como é o seu quotidiano. Os elementos que desenvolveram o projecto tentaram ir de encontro àquilo que as crianças vivem, deixando de pensar nas coisas como elas próprias fariam.



Um dos aspectos interessantes neste site acaba por ser o grafismo adoptado, em direcção à banda desenhada, seja através dos próprios guias virtuais – representados através de bonecos simples, próprios de crianças – e mesmo das próprias cores utilizadas, muito vivas.
Existe, também, o uso de cores quentes quando se trata das expressões do próprio utilizador, em contraste com o uso de cores frias quando de visualiza o conteúdo produzido por outros utilizadores. Não sei se isto foi ou não pensado, mas de facto esta diferenciação acaba por ser benéfica na diferenciação e na proximidade entre as duas grandes áreas do site.

Contudo, já que este projecto pretende ir de encontro a um público que está habituado a interagir de forma emocional com o mundo que o rodeia, pode-se dizer que este site poderá ser melhorado em muita coisa.
A nível de grafismo, talvez os próprios bonecos sejam exageradamente infantis, já que crianças com mais de 8/9 anos (o público-alvo do site, sublinhe-se) terão alguma dificuldade em se identificar com desenhos que faziam há alguns anos atrás.
Além disso, os próprios balões (de falas ou pensamentos) acabam por trazer algumas desvantagens. Em primeiro lugar, requerem que a informação seja introduzida pela criança... e essa informação tem de ser – obrigatoriamente – escrita. Nesta idade, as crianças comunicam muitas vezes de forma mais eficaz – e mesmo preferencialmente – através de desenhos. Deveria ser dada a possibilidade às crianças de poderem desenhar e fazer upload dessas criações, em vez do uso da palavra escrita. Além disso, a barra de scroll dentro dos balões acaba por ser um pouco grave. Outro aspecto a realçar é a pouca diferenciação entre o balão de fala e o balão de pensamento.
E, muito sinceramente, não sei até que ponto é que será importante existir esta diferenciação.
Concordo que esta é uma forma com a qual as crianças se identificam, no entanto julgo que toda a forma como a informação é apresentada deveria ser repensada, na medida em que existe um enorme desfasamento entre a criança e aquele boneco.

Uma das formas – já presente em alguns sites – é mesmo através do uso da própria fotografia da criança, ou de um desenho que a caracteriza. Deveria ser permitido à criança escolher a forma como é representada no universo virtual e mesmo a forma como quer transmitir a sua emoção – texto, fotografia, desenho, som, vídeo, ... Apostar somente na palavra escrita parece-me erróneo quando se fala de crianças, na medida em que elas estão muito mais habituadas a comunicar através da oralidade ou mesmo dos desenhos.

Um dos aspectos preocupantes deste projecto acabou por ser desenvolvido pela Sandra Costa, no que diz respeito aos estereótipos comunicados pelos guias virtuais e pelo condicionamento que esse estereótipo pode ter na própria formação de opinião da criança. Não me irei alongar muito neste ponto, já que foi desenvolvido pela minha colega.

As affordances visuais – nos botões – poderiam ser melhor desenvolvidas, na medida em que não são tão expressivas quanto poderiam ser. Os botões induzem ao clique até um certo ponto, mas poderiam explorar muito mais a forma como as crianças interagem com o mundo real.
Elas estão habituadas a lidar com brinquedos, por exemplo, em que as affordances são muito mais claras e induzem bem mais à acção. Não sei até que ponto é claro que o símbolo de uma página minúscula representa o botão para ler a notícias completa, por exemplo.

Já que este site pretende ser um meio de exploração da emotividade das crianças, esse lado emocional deveria ser tido bem mais em conta. A Internet é, por natureza, um meio frio, mas há formas de contornar esta característica. Eu, por exemplo, tive alguma dificuldade no primeiro minuto em que estive no site, até perceber como as coisas funcionam. Esta característica, neste site, acaba por ser positiva, já que as crianças gostam de explorar o meio em que se encontram. Existe a ajuda presente no site, facto que permite entender o que fazer quando se entra no site.

Outro dos aspectos já abordados em quase todos as segundas versões dos meus colegas acabou por ser a personalização do site, especialmente no que diz respeito aos avatares, por exemplo. Não me irei alongar muito na questão dos avatares, mas tenho uma outra sugestão a fazer. Seria interessante questionar a criança, ao entrar no site, acerca do seu estado de humor e alterar o site consoante esse estado. Por exemplo, se a criança tivesse triste, o uso de cores vivas e quentes proporcionaria uma certa empatia com a criança, fazendo-a alterar o seu estado enquanto navega no site, ainda que inconscientemente.

A interacção com o site é, contudo, fraca a nível de emotividade. Efectivamente, o site corresponde inteiramente às necessidades das crianças. Ou seja, a nível de usabilidade o site é eficaz. Contudo, no que diz respeito ao design emotivo este site fica muito àquem do que poderia fazer. Já nem falo de dispositivos físicos que possibilitem a interacção emotiva com as crianças, mas sim de uma nova roupagem das ferramentas disponíveis – que já foram descritas como indo de encontro às necessidades levantadas.

No que diz respeito aos dispositivos físicos de input, mas que não dependem directamente da equipa que criou o Outburst, seria importante implantar um sistema de reconhecimento por voz através do qual fosse possível à criança interagir com o site. Além disso, uma mesa digitalizadora através da qual a criança pudesse desenhar conteúdos para posterior publicação no site seria também uma ferramenta de input altamente favorável.

Em resumo, todas as ferramentas através das quais as crianças pudessem interagir com o site de um modo mais próximo, indo mais de encontro à forma de transmissão de mensagens a que elas estão habituadas. E falo apenas de algumas ferramentas de fácil acesso, algo que existe já bastante disseminado pelas casas dos indivíduos em geral. Seria altamente vantajoso pegar neste site – que é bastante bom a nível de usabilidade – e levá-lo a que fosse de encontro às emoções da criança, tendo em conta o design emotivo.

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