.: Let yourself be the rythm

28 março, 2006

04.01 | Desenvolvimento de uma checklist para avaliação da acessibilidade da web para utilizadores idosos


O acesso à Internet pretende ser o mais democrático possível, sendo que ao mesmo tempo vem potenciar a exclusão social dos indivíduos offline. Assim, segundo Márcia Barros de Sales e Walter de Abreu Cybis, da Universidade Federal de Santa Catarina, é necessário ter em atenção o acesso físico, a interface humano-computador, a disponibilidade de informações e a familiarização dos utilizadores com os serviços da Internet.

Assim, é importante que se tenha em atenção a acessibilidade na web. Ao contrário do que se possa pensar, a acessibilidade não se trata apenas de fazer com que as páginas sejam acessíveis em todas as plataformas, mas tem a ver principalmente com permitir o acesso igual à informação a cidadãos com necessidades especiais, com especial relevo para deficiências a vários níveis — visual (cegos, daltónicos, visão diminuída), auditiva ou motor.
É extremamente importante olhar para estas deficiências como algo que nos poderá acontecer a todos, já que nenhum de nós está livre de, em qualquer altura da nossa vida, sofrer um dano a nível auditivo, visual ou motor. Além disso, todos nós iremos sofrer algumas perdas a este nível à medida que a idade avança, como veremos ao longo deste artigo.

Nos EUA existe uma lei, a US Public Law 105-220, que obriga a que toda a tecnologia desenvolvida, utilizada ou mantida por agências ou departamentos governamentais seja acessível a funcionários públicos e cidadãos comuns com deficiência de maneira equivalente à dos seus homólogos sem deficiência.

Em Portugal, também existe documentação nesse sentido — Resolução do Conselho de Ministros Nº 97/99. Ao contrário da legislação dos Estados Unidos, que prevê multas pelo incumprimento da referida lei, não há conhecimento de, em Portugal, se punir os organismos estatais que não cumpram as directrizes de acessibilidade. Mas não é a ausência de tal "peso penal" que deve impedir os mesmos de trabalhar no sentido de não discriminar os cidadãos portadores de deficiência.


O site da DGV é exemplo dessa preocupação, além dos sites dos Ministérios. Contudo, no site da DGV, logo no início, surge uma janela pop up que não tem outra forma de ser fechada que não seja através do clique com o rato. Este tipo de situações tem de começar a ser evitado, ainda mais quando o site apresenta o símbolo de acessibilidade na web.

Optei por fazer uma análise a alguns sites ligados à área da educação, sejam eles escolas primárias, secundárias, faculdades, universidades ou outras entidades.
Também analisarei duas plataformas diferentes de e-learning, já que, à partida, estes sites devam ter mais cuidado com as questões ligadas à acessibilidade.


Análise da Homepage de Sites
(através do site http://webxact2.watchfire.com)


Biblioteca Nacional

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não fornece informação textual para todos os hotspots
- não fornece alternativa ao uso da cor
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- o contraste entre conteúdo e fundo nem sempre é suficiente
- nem sempre existe o aviso que clicar num determinado link abre um pop up
- uso de linguagem obsoleta
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- o espaço entre links não é suficiente
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas


Educação

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- o contraste entre conteúdo e fundo nem sempre é suficiente
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- o espaço entre links não é suficiente


Educare

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- nem todos os frames está nomeados
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- os links não têm um rótulo que faça sentido
- existem links em imagens que não existem noutro local da página
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


Ministério da Educação


->
satisfaz o nível 1 de acessibilidade

- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas


NetProf

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- nem todos os frames está nomeados
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas


Flup

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- existem links em imagens que não existem noutro local da página
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


Jornalismo e Ciências da Comunicação

->
satisfaz o nível 1 e 2 de acessibilidade

- não existe um sumário do conteúdo de tabelas


Porto Editora

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- nem todos os frames está nomeados
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- há elementos que requerem o uso de rato
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


Universidade Fernando Pessoa

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- há elementos que requerem o uso de rato
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


Universidade Portucalense

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- há elementos que requerem o uso de rato
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas


Universidade Católica Portuguesa – Porto

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- há elementos que requerem o uso de rato
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


Universidade Lusíada – Porto

->
satisfaz o nível de 1 de acessibilidade

- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas


Escola Secundária de Soares dos Reis

- nem todos os frames está nomeados
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


Escola Secundária Poeta António Aleixo

- nem todos os frames está nomeados
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- a linguagem do texto não se encontra identificada


Escola EB1 de Oleiros

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- texto com sroll sem essa informação
- há elementos que requerem o uso de rato
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


Moodle – Feup

- nem todos os frames está nomeados
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- há elementos que requerem o uso de rato
- usa o mesmo rótulo de link várias vezes, quando o url é diferente
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente


WebCT
(listagem de Faculdades)

- não fornece textos alternativos para todas as imagens
- não utiliza o tamanho/posicionamento relativo dos objectos e do texto
- a linguagem do texto não se encontra identificada
- não existe um sumário do conteúdo de tabelas
- o espaço entre links não é suficiente

Depois desta análise, cheguei à conclusão que a esmagadora maioria dos sites desta área não têm grandes preocupações com questões de acessibilidade. E isso é surpreendente. Os conteúdos são construídos sem qualquer preocupação com as necessidades de alguns cidadãos. E, por vezes, o que falta não é particularmente complicado ou tecnologicamente dispendioso. Grande parte dos programas de construção de webpages (como o DreamWeaver ou mesmo o Flash, da Macromedia) fornecem já ferramentas que em muito facilitam estas questões.
Todas as áreas devem apostar na acessibilidade das suas páginas a todos os cidadãos, mas quando nos debruçamos sobre a área da educação esse cuidado deve ser tomado de modo ainda mais vigoroso. Caso contrário, estaremos a excluir utilizadores. E isso é extremamente grave, já que estamos numa era em que as novas tecnologias desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem.
Este problema atinge níveis preocupantes quando verificamos que ambas as plataformas de e-learning da Universidade do Porto analisadas chumbam na avaliação da acessibilidade.
Apenas o site do Ministério da Educação e o da Universidade Lusíada conseguem satisfazer todos os requisitos para atingirem o nível 1 de acessibilidade. O site do curso Jornalismo e Ciências da Comunicação chega mesmo a atingir o nível 2, porém este site tem um conteúdo muito escasso. E é apenas um entre muitos.

A construção de sites que respeite as directivas básicas de acessibilidade requer alguns procedimentos essenciais. Quando falamos de materiais educativos que tenham como suporte a web, fácil e rapidamente concluímos que há ainda muito a mudar.
Nesta análise ficaram de fora sites cujo conteúdo sejam jogos, por exemplo. Todos esses jogos implicam a utilização de um rato, não dando ao utilizador a hipótese de usar um outro qualquer dispositivo. Tecnologicamente, seria possível construir jogos que fossem passíveis de controlo via outros dispositivos? Penso que não. E aqui entra outro grave problema. Por vezes, não é possível construir alternativas. Nem sempre se pode chegar a todos os cidadãos através do mesmo conteúdo. O que fazer então? Construir conteúdos específicos? Não seria isto uma outra forma de exclusão, de fazer com que as limitações de uma pessoa fosse motivo de diferenciação, coisa que se pretende extinguir?
São perguntas cuja resposta está longe de ser consensual. Exclusão ou diferenciação? Mas até que ponto seria agradável para um cidadão, à entrada de um determinado site, se deparar com um role de hipóteses e filtros, sobre as suas capacidades? Contudo, não se sentiria ele menos mal com esta situação do que a total incapacidade de navegação num site que não fizesse a tal diferenciação?

O caminho passa pela junção de duas coisas: conteúdos abrangentes, que cheguem ao maior número de utilizadores possível e, ao mesmo tempo, a interligação de vários meios para conseguir comunicar. Não só texto, mas também imagem e som. A redundância de informação acaba por ser importante para combater as especificidades de cada ser humano.
A chamada multimédia terá, aqui, um papel fundamental. É necessário inverter a forma como se olha para as webpages e para a sua construção, estruturação e conteúdos. Porque não existem cidadãos “diferentes”. Aliás, todos nós somos diferentes uns dos outros. Porém, essas diferenças não podem condicionar o acesso à informação, principalmente quando vivemos numa sociedade que gira à sua volta. E o primeiro passo deve, efectivamente, ser dado na área da educação, que irá “arrastar” todas as outras”.

Desenvolvimento de uma checklist para avaliação da acessibilidade da web para utilizadores idosos

Actualmente, assistimos a um progressivo envelhecimento da população mundial. Com os avanços no campo da saúde, a esperança média de vida é cada vez mais alta. Além disso, cada vez mais o espectro de idades de utilizadores da web se dilata, sendo que não mais existe o preconceito que a world wide web se destina aos jovens destemidos.
Segundo Jakob Nielsen, 50% dos idosos apresentam algum tipo de alteração funcional que dificulta a interacção com o computador, sendo que por este motivo passam a fazer parte do grupo de “utilizadores com necessidades especiais”.
É importante ter em conta que este grupo específico apresenta algumas características próprias, já que apresentam sérias alterações no campo da visão, audição, motricidade e cognição. Além disso, a terceira idade conduz também a alterações emocionais: a reforma conduz ao isolamento e solidão, é uma altura da vida em que o sentimento de perda, insegurança e tristeza se entranha nos indivíduos, juntamente com os habituais problemas de saúde. A reforma conduz também à redução da actividade dos indivíduos, o que concomitantemente traz problemas ao nível da concentração, reacção e coordenação. Ao tomar conhecimento desta realidade, o idoso vê reduzida a sua auto-estima, torna-se apático, desmotivado, recorrendo ao isolamento social. Segundo Litto, é essa auto-estima que “exerce um papel poderoso no processo de apropriação de novas tecnologias pelos idosos”. Logo, temos de ter em conta todos estes aspectos quando reflectimos sobre a acessibilidade na web.
Segundo Francisco Godinho, existem três perspectivas de acessibilidade:

- utilizadores – nenhum obstáculo pode ser imposto ao individuo face às suas capacidades sensoriais e funcionais;

- situação – o sistema deve ser acessível e utilizável em diversas situações, independentemente do software, comunicações ou equipamentos;

- ambiente – o acesso não deve ser condicionado pelo ambiente físico envolvente, exterior ou interior.

Já existe um vasto conjunto de normas e recomendações neste sentido, como as seguintes:

Directivas para a acessibilidade do conteúdo da Web - 1.0
Recomendação do W3C, de 5 de Maio de 1999

01 | Fornecer alternativas ao conteúdo sonoro e visual
02 | Não recorrer apenas à cor
03 | Utilizar correctamente anotações e folhas de estilo
04 | Indicar claramente qual a língua utilizada
05 | Criar tabelas passíveis de transformação harmoniosa
06 | Assegurar que as páginas dotadas de novas tecnologias sejam transformadas harmoniosamente
07 | Assegurar o controlo do utilizador sobre as alterações temporais do conteúdo
08 | Assegurar a acessibilidade directa de interfaces do utilizador integradas
09 | Pautar a concepção pela independência face a dispositivos
10 | Utilizar soluções de transição
11 | Utilizar as tecnologias e as directivas do W3C
12 | Fornecer contexto e orientações
13 | Fornecer mecanismos de navegação claros
14 | Assegurar a clareza e a simplicidade dos documentos


9 Conselhos para a acessibilidade num sítio web

Apresentação da informação

1 | Garanta que todas as imagens se encontram legendadas ou descritas com texto
2 |Garanta que o tamanho do texto pode ser aumentado com as opções do seu navegador
3 | Garanta que o comprimento do texto na página se ajusta ao tamanho da Janela
4 | Garanta a identificação dos campos dos formulários

Navegação

5 | Permita a activação dos elementos da página através do teclado
6 | Garanta que os textos das ligações sejam compreensíveis fora do contexto

Verificação da acessibilidade

7 | Forneça uma forma simples para contactar o responsável
8 | Utilize ferramentas e serviços automáticos de análise de acessibilidade
9 | Afixe o símbolo de acessibilidade na web

Alguns sites úteis nesta matéria:

http://www.utad.pt/wai/wai-pageauth.html
http://www.acessibilidade.net/web/
http://www.acesso.umic.pcm.gov.pt/acesso/visitabil.htm

O desenvolvimento da checklist para idosos foi precedido de uma análise de checklists gerais, seguida de um processo de criação evolutivo até se ter chegado ao resultado final.
O grupo de análise e observação consistiu numa oficina de iniciação ao uso de uma ferramenta de e-mail. Através desta análise, foram registados alguns aspectos negativos, detectados pelos idosos, desse sistema: mau posicionamento de elementos, não compreensão de termos técnicos, tamanho reduzido de ícones e não compreensão do significado destes, tamanho reduzido do texto e do cursor, fundo branco que dificultava a leitura, demora na realização das tarefas e preferência por outros dispositivos de input (microfone, por exemplo).
Estes resultados direccionaram a busca inicial de recomendações ergonómicas, com vista à elaboração da lista de verficação.

Um projecto que considere todas estes conselhos facilita a vida ao utilizador, minimizando a carga cognitiva de trabalho durante a execução das tarefas, aumentando a sua concentração e diminuindo situações de erros ou fracassos, motivando-os na utilização da interface.

O desenvolvimento da checklist para idosos foi precedido de uma análise de checklists gerais, seguida de um processo de criação evolutivo até se ter chegado ao resultado final.
O grupo de análise e observação consistiu numa oficina de iniciação ao uso de uma ferramenta de e-mail. Através desta análise, foram registados alguns aspectos negativos, detectados pelos idosos, desse sistema: mau posicionamento de elementos, não compreensão de termos técnicos, tamanho reduzido de ícones e não compreensão do significado destes, tamanho reduzido do texto e do cursor, fundo branco que dificultava a leitura, demora na realização das tarefas e preferência por outros dispositivos de input (microfone, por exemplo).
Estes resultados direccionaram a busca inicial de recomendações ergonómicas, com vista à elaboração da lista de verficação.

A lista foi dividida, segundo os critérios ergonómicos estabelecidos por Bastien & Scapin:

- compatibilidade

. descrições textuais de componentes que não sejam textuais (imagens, vídeos, gráficos, sons, vídeos, ícones,...)
. versões das páginas exclusivamente e texto e actualização destas
. não existência de elementos que “pisquem” ou possibilidade de os desligar
. diferentes tipos de pesquisa
. texto em voz activa, claro e em linguagem que o utilizador entenda
. não existência de menus/listas pull-down
. tornar o cursor bem visível na página
. hotspots suficientemente grandes para permitirem a interacção

- flexibilidade

. sincronização de legendas/descrições sonoras
. possibilidade dos componentes serem operados por diferentes dispositivos – rato e teclado

- legibilidade

. contraste entre o texto e o fundo
. informação expressa por cores não depender unicamente dela
. uso de fontes não serifadas, no mínimo em tamanho 12 ou 14
. não utilização de caps, à excepção de títulos
. espaçamento duplo entre linhas e cumprimento não excessivo destas
. alinhamento à esquerda
. siglas devidamente explicadas
. menor brilho possível no fundo da página
. não existência de roll-up/down automático

- controlo do utilizador

. páginas sem actualização automática ou possibilidade de a desligar

- agrupamento/distinção por localização

. divisão do texto em blocos curtos
. links textuais na mesma linha devidamente separados
. links relacionados agrupados e devidamente identificados
. informação importante destacada

- significado dos códigos e denominações

. destino dos links com descrição textual
. ícones legíveis, claros e se possível rotulados


- “presteza”

. frames do site com títulos e descrição da relação entre eles quando não seja óbvia pelos títulos
. em formulários, posicionamento correcto dos elementos de interacção face ao rótulo
. existência de títulos e cabeçalhos
. informação sobre a localização no site devidamente realçada (tracking)
. existência de resumos de tabelas e figuras
. botões de navegação rotulados
. existência de um mapa do site
. opções de ajuda facilmente acessíveis


- acções mínimas

. não existência de acções repetitivas


- consistência

. elementos posicionados no mesmo sitio, com mesmo forma e tamanho


- densidade informacional

. não existência de informação irrelevante, repetitiva ou impertinente


Esta lista encontra-se ainda no princípio, há ainda muito a fazer nesta área. Contudo, é preciso começar a dar os primeiros passos neste sentido, na medida em que as questões de acessibilidade na web começam a se tornar incontornáveis. Não mais podemos continuar de costas voltadas para estas questões e é fundamental fazer com que a informação chegue a toda a gente.
Estando a Sociedade da Informação no seu auge, urge fazer com que os indivíduos possam aceder a ela de igual modo, sem diferenciações.


21 março, 2006

03.02 | Teste com utilizadores & avaliação heurística (version 2.0)

Um sistema interactivo pode ser avaliado através de dois métodos: os empíricos e os não empíricos. Estes últimos baseiam-se unicamente na opinião de um especialista, enquanto nos primeiros existe uma experimentação e participação dos utilizadores.
Para avaliar o site do semanário português Expresso foram usados ambos os métodos. A primeira parte desta análise corresponde a uma avaliação heurística através do modelo apresentado por Nielsen e Molich, em 1994. A segunda parte da avaliação corresponde aos testes realizados com os utilizadores.


São dez as heurísticas apresentas por Nielsen e Molich para avaliar um sistema interactivo:

  • Visibilidade do estado do sistema
  • Ajuste entre o sistema e o mundo real
  • Controlo e liberdade do utilizador
  • Consistência e standards
  • Prevenção de erros
  • Reconhecimento em vez de lembrança
  • Flexibilidade e eficiência no uso
  • Estética e design minimalistas
  • Ajuda aos utilizadores para reconhecerem, diagnosticarem e recuperarem de erros
  • Ajuda e documentação

De forma a ser o mais claro e objectivo possível, construi uma grelha de avaliação destas heurísticas, sendo que a seguir irei explorar algumas delas. Para isso, foi dada uma pontuação a cada uma delas, entre 1 e 10.

Visibilidade do estado do sistema

3

Ajuste entre o sistema e o mundo real

6

Controlo e liberdade do utilizador

4

Consistência e standards

8

Prevenção de erros

6

Reconhecimento em vez de lembrança

8

Flexibilidade e eficiência no uso

5

Estética e design minimalistas

6

Ajuda aos utilizadores para reconhecerem, diagnosticarem e recuperarem de erros

7

Ajuda e documentação

2



Nem todas as heurísticas fazem muito sentido na avaliação de um site, como acontece com a flexibilidade e eficiência de uso. Aqui, não faz sentido proporcionar ao utilizador atalhos de teclado, por exemplo. Contudo, elas são um bom ponto de partida na avaliação de sistemas interactivos. Vejamos, na prática, como o site do Expresso se comporta relativamente algumas delas (as mais pertinentes, dado o contexto).

Visibilidade do estado do sistema
Aqui, existem alguns problemas graves. Não existe qualquer caminho de migalhas ou outro sistema de tracking através do qual os utilizadores saibam em que sítio se encontram, tal como não existe qualquer mapa do site. além disso, o loading do conteúdo das páginas não é objecto de explicação, sendo que as páginas se apresentam em branco na área a carregar. Outro aspecto grave é não existir a distinção de links que abrem novas janelas. O único ponto positivo é mesmo o aviso de abertura de pdf’s.

Ajuste entre o sistema e o mundo real
Nesta heurística o site até acaba por satisfazer medianamente o que é pretendido. Existe uma divisão do site semelhante às próprias secções do jornal físico, mas – como iremos verificar através dos testes com utilizadores – essa divisão não é suficientemente clara.

Consistência e standards
Uma das heurísticas em que o site melhor se comporta. Efectivamente, os ícones e demais elementos gráficos presentes no site acabam por se comportar sempre do mesmo modo, como é o caso das setinhas para expandir ou colapsar os menus ou mesmo os ícones de voltar, enviar, imprimir, comentar ou adicionar link para a página presentes no final de cada notícia.

Setas para expandir e colapsar menu

Ícones presentes no final de cada notícia

Prevenção de erros (à qual adiciono também a Ajuda aos utilizadores para reconhecerem, diagnosticarem e recuperarem de erros)
No que diz respeito aos erros, o site do Expresso porta-se relativamente bem, na medida em que os problemas presentes neste site acabam por existir frequentemente em quase todos os sites. Não existe qualquer aviso de erro à medida que se preenchem os formulários, mas – pelo menos – as informações são guardadas se o submetermos com erros. Existe também a indicação – numa janela pop-up – nas áreas em que o log in é necessário. Contudo, não existe qualquer aviso (além do fornecido pelo browser) em páginas desactivadas – como acontece com o “Expresso África”.



Aviso de log in


Existe ainda uma opção bastante interessante que optei por não enquadrar em nenhuma das heurísticas em concreto: é dada ao utilizador a hipótese de alterar o tamanho de letra nas notícias.


Outro facto que ficou de fora da avaliação heurística, mas que não poderia deixar de mencionar, é o facto da pesquisa se encontrar num local muito escondido. Não se percebe porque não se encontra ela sempre presente através de uma barra de pesquisa.


Teste com utilizadores

O site do semanário Expresso foi sujeito a uma teste de monitorização de utilizadores, a quem foi pedido que executassem 3 tarefas diferentes.
Foram 3 os indivíduos sujeitos ao teste, todos do sexo feminino e com idade entre os 21 e 22 anos. A observação foi o mais neutra possível, limitando-se ao registo do número de cliques e do tempo utilizado para executar as tarefas.
É importante deixar claro que o tempo de latência foi tido em conta, ou seja, o tempo começou a ser cronometrado logo a partir do momento em que a instrução foi dada.


A tarefa que mais problemas levantou foi mesmo a primeira, que consistia em descobrir uma notícia em concreto – um concerto do Noddy no Pavilhão Atlântico. Um dos utilizadores acabou por gastar mais de 5 cliques depois de entrar na secção correcta. Ou seja, podemos chegar à conclusão que a confusão acaba por complicar o acesso à informação.
Além disso, todos os utilizadores acabaram por se sentir confusos nos primeiros momentos de utilização do site, pela organização deste. A divisão das secções não é muito clara, o que acabou por trazer complicações aos utilizadores. O período de latência após a primeira indicação foi elevado, correspondendo a cerca de 30 sengundos.
Este período é normal, dado que se tenta perceber a estrutura do site. Mas muitas vezes os utilizadores passaram com rato sobre o menu e não perceberam que era aí que a divisão por secções se encontrava.
A segunda tarefa foi mais rapidamente executada, além de serem precisos menos cliques (só o utilizador 1 gastou 3, enquanto os outros dois apenas 2). A terceira tarefa foi ainda mais rapidamente executada, sendo apenas 2 cliques os usados por todos os utilizadores.
Este facto vem comprovar aquilo que acontece na utilização dos sites – um processo natural de aprendizagem na utilização do site.


Tarefa 1 - Encontrar a notícia sobre o concerto do Noddy

Foi nesta tarefa que os utilizadores mais se desorientaram. O caminho mais rápido era aceder ao Cartaz e depois clicar em Musica. Logo nessa página encontravam a notícia pretendida. Um facto curioso foi dois utilizadores entrarem nessa página e nem repararem que a notícia já ali estava, continuado a procura. Logo, podemos afirmar que a visibilidade das notícias não é muito grande. Além de que era necessário fazer scroll para lá daquilo que seria "aceitável" até encontrar a notícia em questão.



Tarefa 2 - Encontrar o fórum de emprego

Nesta tarefa, todos os utilizadores acabaram por ser bem mais rápidos. O caminho era simples: bastava entrar no Emprego. Nessa página existiam duas opções para aceder ao fórum: através do menu presente no lado esquerdo da página ou fazendo scroll, já que mais para o fundo da página se encontrava um link num tamanho elevado para este.


Tarefa 3 - Encontrar as estreias de cinema da semana

Na última tarefa, os utilizadores também chegaram à informação muito rapidamente. Bastava seleccionar o Cartaz e aí escolher cinema. Automaticamente ficava presente na página a informação sobre as estreias da semana.


Conclusão

Através destes dois métodos de avaliação de sistemas interactivos podemos chegar à conclusão que o site do Expresso apresenta alguns problemas graves. Alguns prendem-se directamente à arquitectura de informação enquanto outros se prendem a problemas relacionados com o design de interacção. A verdade é que a maior parte dos sites de órgãos de comunicação social que existem para lá do suporte digital apresentam muitas vezes um vasto conjunto de graves problemas, na medida em que apenas tentam transpor para o meio digital aquilo que o suporte físico é – seja um jornal, uma televisão ou uma rádio.
É importante reflectir sobre as diferenças entre os diferentes meios e adaptar o site às características do novo meio, não apenas fornecer o mesmo num outro suporte.

20 março, 2006

03.01 | Teste com utilizadores e avaliação heurística (version 1.0)

O site do semanário Expresso foi sujeito a uma teste de monitorização de utilizadores, a quem foi pedido que executassem 3 tarefas diferentes.
Foram 3 os indivíduos sujeitos ao teste, todos do sexo feminino e com idade entre os 21 e 22 anos. A observação foi o mais neutra possível, limitando-se ao registo do número de cliques e do tempo utilizado para executar as tarefas.
É importante deixar claro que o tempo de latência foi tido em conta, ou seja, o tempo começou a ser cronometrado logo a partir do momento em que a instrução foi dada.


A tarefa que mais problemas levantou foi mesmo a primeira, que consistia em descobrir uma notícia em concreto – um concerto do Noddy no Pavilhão Atlântico. Um dos utilizadores acabou por gastar mais de 5 cliques depois de entrar na secção correcta. Ou seja, podemos chegar à conclusão que a confusão acaba por complicar o acesso à informação.
Além disso, todos os utilizadores acabaram por se sentir confusos nos primeiros momentos de utilização do site, pela organização deste. A divisão das secções não é muito clara, o que acabou por trazer complicações aos utilizadores. O período de latência após a primeira indicação foi elevado, correspondendo a cerca de 30 sengundos.
Este período é normal, dado que se tenta perceber a estrutura do site. Mas muitas vezes os utilizadores passaram com rato sobre o menu e não perceberam que era aí que a divisão por secções se encontrava.
A segunda tarefa foi mais rapidamente executada, além de serem precisos menos cliques (só o utilizador 1 gastou 3, enquanto os outros dois apenas 2). A terceira tarefa foi ainda mais rapidamente executada, sendo apenas 2 cliques os usados por todos os utilizadores.
Este facto vem comprovar aquilo que acontece na utilização dos sites – um processo natural de aprendizagem na utilização do site.

18 março, 2006

02.02 | Outburst & Design Emotivo (version 2.0)

O projecto Outburst nasce da tentativa de disponibilizar às crianças um meio de elas expressarem a sua opinião e os seus sentimentos. O processo de criação deste projecto passou por uma série de etapas, que consistiram na tentativa de perceber como as crianças funcionam, como é o seu quotidiano. Os elementos que desenvolveram o projecto tentaram ir de encontro àquilo que as crianças vivem, deixando de pensar nas coisas como elas próprias fariam.



Um dos aspectos interessantes neste site acaba por ser o grafismo adoptado, em direcção à banda desenhada, seja através dos próprios guias virtuais – representados através de bonecos simples, próprios de crianças – e mesmo das próprias cores utilizadas, muito vivas.
Existe, também, o uso de cores quentes quando se trata das expressões do próprio utilizador, em contraste com o uso de cores frias quando de visualiza o conteúdo produzido por outros utilizadores. Não sei se isto foi ou não pensado, mas de facto esta diferenciação acaba por ser benéfica na diferenciação e na proximidade entre as duas grandes áreas do site.

Contudo, já que este projecto pretende ir de encontro a um público que está habituado a interagir de forma emocional com o mundo que o rodeia, pode-se dizer que este site poderá ser melhorado em muita coisa.
A nível de grafismo, talvez os próprios bonecos sejam exageradamente infantis, já que crianças com mais de 8/9 anos (o público-alvo do site, sublinhe-se) terão alguma dificuldade em se identificar com desenhos que faziam há alguns anos atrás.
Além disso, os próprios balões (de falas ou pensamentos) acabam por trazer algumas desvantagens. Em primeiro lugar, requerem que a informação seja introduzida pela criança... e essa informação tem de ser – obrigatoriamente – escrita. Nesta idade, as crianças comunicam muitas vezes de forma mais eficaz – e mesmo preferencialmente – através de desenhos. Deveria ser dada a possibilidade às crianças de poderem desenhar e fazer upload dessas criações, em vez do uso da palavra escrita. Além disso, a barra de scroll dentro dos balões acaba por ser um pouco grave. Outro aspecto a realçar é a pouca diferenciação entre o balão de fala e o balão de pensamento.
E, muito sinceramente, não sei até que ponto é que será importante existir esta diferenciação.
Concordo que esta é uma forma com a qual as crianças se identificam, no entanto julgo que toda a forma como a informação é apresentada deveria ser repensada, na medida em que existe um enorme desfasamento entre a criança e aquele boneco.

Uma das formas – já presente em alguns sites – é mesmo através do uso da própria fotografia da criança, ou de um desenho que a caracteriza. Deveria ser permitido à criança escolher a forma como é representada no universo virtual e mesmo a forma como quer transmitir a sua emoção – texto, fotografia, desenho, som, vídeo, ... Apostar somente na palavra escrita parece-me erróneo quando se fala de crianças, na medida em que elas estão muito mais habituadas a comunicar através da oralidade ou mesmo dos desenhos.

Um dos aspectos preocupantes deste projecto acabou por ser desenvolvido pela Sandra Costa, no que diz respeito aos estereótipos comunicados pelos guias virtuais e pelo condicionamento que esse estereótipo pode ter na própria formação de opinião da criança. Não me irei alongar muito neste ponto, já que foi desenvolvido pela minha colega.

As affordances visuais – nos botões – poderiam ser melhor desenvolvidas, na medida em que não são tão expressivas quanto poderiam ser. Os botões induzem ao clique até um certo ponto, mas poderiam explorar muito mais a forma como as crianças interagem com o mundo real.
Elas estão habituadas a lidar com brinquedos, por exemplo, em que as affordances são muito mais claras e induzem bem mais à acção. Não sei até que ponto é claro que o símbolo de uma página minúscula representa o botão para ler a notícias completa, por exemplo.

Já que este site pretende ser um meio de exploração da emotividade das crianças, esse lado emocional deveria ser tido bem mais em conta. A Internet é, por natureza, um meio frio, mas há formas de contornar esta característica. Eu, por exemplo, tive alguma dificuldade no primeiro minuto em que estive no site, até perceber como as coisas funcionam. Esta característica, neste site, acaba por ser positiva, já que as crianças gostam de explorar o meio em que se encontram. Existe a ajuda presente no site, facto que permite entender o que fazer quando se entra no site.

Outro dos aspectos já abordados em quase todos as segundas versões dos meus colegas acabou por ser a personalização do site, especialmente no que diz respeito aos avatares, por exemplo. Não me irei alongar muito na questão dos avatares, mas tenho uma outra sugestão a fazer. Seria interessante questionar a criança, ao entrar no site, acerca do seu estado de humor e alterar o site consoante esse estado. Por exemplo, se a criança tivesse triste, o uso de cores vivas e quentes proporcionaria uma certa empatia com a criança, fazendo-a alterar o seu estado enquanto navega no site, ainda que inconscientemente.

A interacção com o site é, contudo, fraca a nível de emotividade. Efectivamente, o site corresponde inteiramente às necessidades das crianças. Ou seja, a nível de usabilidade o site é eficaz. Contudo, no que diz respeito ao design emotivo este site fica muito àquem do que poderia fazer. Já nem falo de dispositivos físicos que possibilitem a interacção emotiva com as crianças, mas sim de uma nova roupagem das ferramentas disponíveis – que já foram descritas como indo de encontro às necessidades levantadas.

No que diz respeito aos dispositivos físicos de input, mas que não dependem directamente da equipa que criou o Outburst, seria importante implantar um sistema de reconhecimento por voz através do qual fosse possível à criança interagir com o site. Além disso, uma mesa digitalizadora através da qual a criança pudesse desenhar conteúdos para posterior publicação no site seria também uma ferramenta de input altamente favorável.

Em resumo, todas as ferramentas através das quais as crianças pudessem interagir com o site de um modo mais próximo, indo mais de encontro à forma de transmissão de mensagens a que elas estão habituadas. E falo apenas de algumas ferramentas de fácil acesso, algo que existe já bastante disseminado pelas casas dos indivíduos em geral. Seria altamente vantajoso pegar neste site – que é bastante bom a nível de usabilidade – e levá-lo a que fosse de encontro às emoções da criança, tendo em conta o design emotivo.

13 março, 2006

02.01 | Outburst & Design Emotivo (version 1.0)


O projecto Outburst nasce da tentativa de disponibilizar às crianças um meio de elas expressarem a sua opinião e os seus sentimentos. O processo de criação deste projecto passou por uma série de etapas, que consistiram na tentativa de perceber como as crianças funcionam, como é o seu quotidiano. Os elementos que desenvolveram o projecto tentaram ir de encontro àquilo que as crianças vivem, deixando de pensar nas coisas como elas próprias fariam.

Um dos aspectos interessantes neste site acaba por ser o grafismo adoptado, em direcção à banda desenhada, seja através dos próprios guias virtuais – representados através de bonecos simples, próprios de crianças – e mesmo das próproas cores utilizadas, muito vivas. Existe, também, o uso de cores quentes quando se trata das expressões do próprio utilizador, em contraste com o uso de cores frias quando de visualiza o conteúdo produzido por outros utilizadores. Não sei se isto foi ou não pensado, mas de facto esta diferenciação acaba por ser benéfica na diferenciação e na proximidade entre as duas grandes áreas do site.

Contudo, já que este projecto pretende ir de encontro a um público que está habituado a interagir de forma emocional com o mundo que o rodeia, pode-se dizer que este site poderá ser melhorado em muita coisa. A nível de grafismo, talvez os próprios bonecos sejam exageradamente infantis, já que crianças com mais de 8/9 anos terão alguma dificuldade em se identificarem com desenhos que faziam há alguns anos atrás. Além disso, os próprios balões (de falas ou pensamentos) acabam por trazer algumas desvantagens. Em primeiro lugar, requerem que a informação seja introduzida pela criança... e essa informação tem de ser – obrigatoriamente – escrita. Nesta idade, as crianças comunicam muitas vezes de forma mais eficaz – e mesmo preferencialmente – através de desenhos. Deveria ser dada a possibilidade às crianças de poderem desenhar e fazer upload dessas criações, em vez do uso da palavra escrita. Além disso, a barra de scroll dentro dos balões acaba por ser um pouco grave. Concordo que esta é uma forma com a qual as crianças se identificam, no entanto julgo que toda a forma como a informação é apresentada deveria ser repensada, na medida em que existe um enorme desfasamento entre a criança e aquele boneco.

Uma das formas – já presente em alguns sites – é mesmo através do uso da própria fotografia da criança, ou de um desenho que a caracteriza. Deveria ser permitido à criança escolher a forma como é representada no universo virtual e mesmo a forma como quer transmitir a sua emoção – texto, fotografia, desenho, som, vídeo, ... Apostar somente na palavra escrita parece-me erróneo quando se fala de crianças, na medida em que elas estão muito mais habituadas a comunicar através da oralidade ou mesmo dos desenhos.

As affordances visuais – nos botões – poderiam ser melhor desenvolvidas, na medida em que não são tão expressivas quanto poderiam ser. Os botões induzem ao clique até um certo ponto, mas poderiam explorar muito mais a forma como as crianças interagem com o mundo real. Elas estão habituadas a lidar com brinquedos, por exemplo, em que as affordances são muito mais claras e induzem bem mais à acção. Não sei até que ponto é claro que o símbolo de uma página minúscula representa o botão para ler a notícias completa, por exemplo.

Já que este site pretende ser um meio de exploração da emotividade das crianças, esse lado emocional deveria ser tido bem mais em conta. A Internet é, por natureza, um meio frio, mas há formas de contornar esta característica. Eu, por exemplo, tive alguma dificuldade no primeiro minuto em que estive no site, até perceber como as coisas funcionam. Esta característica, neste site, acaba por ser positiva, já que as crianças gostam de explorar o meio em que se encontam. Existe a ajuda presente no site, facto que permite entender o que fazer quando se entra no site.

A interacção com o site é, contudo, fraca a nível de emotividade. Efectivamente, o site corresponde inteiramente às necessidades das crianças. Ou seja, a nivel de usuabilidade o site é eficaz. Contudo, no que diz respeito ao design emotivo este site fica muito àquem do que poderia fazer. Já nem falo de dispositivos físicos que possibilitem a interacção emotiva com as crianças, mas sim de uma nova roupagem das ferramentas disponíveis – que já foram descritas como indo de encontro às necessidades levantadas.

No que diz respeito aos dispositivos físicos de input, mas que não dependem directamente da equipa que criou o Outburst, seria importante implantar um sistema de reconhecimento por voz através do qual fosse possível à criança interagir com o site. Além disso, uma mesa digitalizadora através da qual a criança pudesse desenhar conteúdos para posterior publicação no site seria também uma ferramenta de input altamente favorável.

Em resumo, todas as ferramentas através das quais as crianças pudessem interagir com o site de um modo mais próximo, indo mais de encontro à forma de trasmissão de mensagens a que elas estão habituadas. E falo apenas de algumas ferramentas de fácil acesso, algo que existe já bastante disseminado pelas casas dos indivíduos em geral. Seria altamente vantajoso pegar neste site – que é bastante bom a nível de usuabilidade – e levá-lo a que fosse de encontro às emoções da criança, tendo em conta o design emotivo.

07 março, 2006

01 | Avaliação crítica do sistema Sigarra _ design de interacção e norma ISO 9241

O sistema Sigarra procura juntar em si todos os órgãos constitutivos da Universidade do Porto. Todas as diferentes faculdades apresentam um website semelhante – à excepção da Faculdade de Ciências, mas disto falaremos mais tarde. A grande diferença a nível visual entre os sites das diferentes faculdades acaba por ser o uso da cor – de acordo com a faculdade a que se refere. Além dos sites individuais de cada uma das instituições, existe ainda um outro, correspondente à Reitoria da Universidade.


Comecemos, em primeiro lugar, por efectuar uma breve análise ao aspecto visual deste sistema. Tendo nascido como um projecto bem mais pequeno, a partir da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, este sistema foi crescendo de uma forma pouco cuidada. Este facto encontra-se bastante claro em toda a estrutura do site. A informação aparece de forma pouco cuidada, sendo que existe uma enorme sobrecarga no ecrã.
O site principal do sistema (aquele que funciona como uma espécie de homepage no sistema) é, talvez, aquele que tem uma melhor organização. Existe um menu principal do lado esquerdo, sendo que abaixo deste se encontra a área de log in e um mapa interactivo do campus da Universidade. Logo aqui aponto o primeiro aspecto negativo: a área de log in deveria aparecer acima do menu, não abaixo. O mapa interactivo poderia, também, se situar num outro local da página, talvez mesmo no canto superior direito – que se encontra totalmente desocupado. Num local mais ao centro encontra-se uma lista de notícias recentes, ligadas à UP. Novo problema, já que a informação é muita para o espaço disponível. Uma das soluções seria mesmo apresentar apenas o título da notícia, no qual se poderia clicar para lê-la toda. Mais do lado direito, encontra-se um calendário interactivo, com os eventos disponíveis. Nada a apontar, se não existisse ainda à direita deste um outro menu, cuja existência e posicionamento acabam por parecer um pouco estranhos. Denominado “opções”, por que não se encontra ele por baixo do menu principal, do lado esquerdo? Não se justificava a existência de dois menus verticais tão extensos em cada um dos lados do ecrã.
Em páginas com texto (a de apresentação, por exemplo), verificamos que este se encontra demasiado extenso em cada linha, passando em muito as 15 palavras por linha. Deste modo, a leitura é dificultada. Além disso, o texto não se encontra de modo a permitir o re-flow, quando o tamanho da janela é alterado.
Existe uma tentativa de levar o utilizador a ter conhecimento do local do site onde se encontra, através de uma área de tracking (“Você está em:”), mas o local apresentado é sempre “Início”. Logo, não existe qualquer indicação do estado de sistema.


Este problema já se encontra resolvido nos sites individuais de cada faculdade, como pude constatar no caso da Faculdade de Letras. Contudo, ao aprofundarmos o nível de informação, o sistema deixa de nos proporcionar informação sobre o local do site onde nos encontramos, como acontece – por exemplo - na página sobre o programa Sócrates.

Isto contraria o princípio defendido por Tognazzini, já que o utilizador não dispõe de informação sobre o estado do sistema. Comecemos, então, uma análise do sistema Sigarra segundo os princípios defendidos pelo autor.
Segundo ele, deve existir uma antecipação das necessidades e vontades do utilizador, através da explicitação da informação e das ferramentas que despoletam determinadas acções (affordances, por exemplo). Segundo aquilo que o próprio Sigarra define, o público-alvo são os estudantes (quer os actuais, quer os potenciais) e os docentes.Assim, seria lógico desde logo existir uma distinção clara entre estes dois tipos de utilizadores, já que o tipo de necessidades são suficientemente diferentes para que assim fosse. Um aspecto positivo é a inclusão de um botão de ajuda, que se encontra activo em algumas páginas – sendo que assim é na principal, o que permite um entendimento de como o site se encontra dividido e como funciona.
Os ícones são relativamente fáceis de entender e associar à respectiva função (bandeira britânica para conteúdo em inglês, ponto de interrogação para obter ajuda, e o símbolo de segurança para efectuar o log in). Existe uma coerência nestas três ferramentas, já que em todos os sites das faculdades elas têm o mesmo objectivo e posicionamento.



No que diz respeito à informação, a arquitectura adoptada neste site faz com que seja extremamente complicado chegar a certos conteúdos. Além de que, por vezes, chegamos a eles sem saber muito bem como. Este problema poderia ser facilmente atenuado com um mapa do site, bem como a alteração da estrutura do site.
O utilizador do sistema Sigarra possui bastante autonomia, sendo que esse grau elevado o pode conduzir a uma certa inércia, já que o número de opções é muito elevado em cada uma das páginas. Existe algum feedback de sistema, seja através da barra mais clara no menu, à medida em que o vamos percorrendo com o rato, seja através de pedidos de log in para aceder a determinados conteúdos.
Contudo, nem sempre sabemos o que irá acontecer ao clicarmos em determinado link, já que alguns abrem links externos, outros páginas exteriores e outros pdf’s. Logo, nem sempre o utilizador sabe o que irá acontecer (a maior parte das vezes, entenda-se).
Tognazzini defende que a informação não deve ser organizada somente através do uso da cor, o que o sistema Sigarra não faz. A cor é usada apenas de modo acessório e como forma de se ligar à entidade a que se encontra associado – azul-escuro para a Faculdade de Letras, por exemplo – e apenas no banner, fundo do menu principal e títulos.
Como já foi dito, existe uma consistência de funções, operações e estruturas entre todas as diferentes faculdades, à excepção da Faculdade de Ciências. Não se entende muito bem o motivo que levou à diferenciação, mas como é caso único entre 14 faculdades, não me irei debruçar sobre isso.
No que diz respeito à personalização, pura e simplesmente não é possível. Além disso, não existe no site qualquer metáfora com o mundo físico ou com a respectiva tarefa, a não ser que consideremos o clicar no logótipo da Universidade para voltar à homepage.
A Lei de Fitt, em certos casos, acaba por ser respeitada, já que o banner e elementos que nele se encontram apresentam-se numa proporção bastante superior aos restantes elementos visuais.
Navegar no sistema Sigarra exige um relativamente curto período de aprendizagem, isto no que se refere às actividades mais simples. Contudo, quanto mais profundas são as nossas necessidades, maior terá de ser o esforço em busca do conhecimento sobre o modo de funcionamento e sua estruturação.

Relativamente à norma ISO 9241, não me poderei alongar muito, na medida em que apenas conto com a minha experiência de navegação. Contudo, visto que ela se prende com a performance e a satisfação do utilizador, teria que chumbar este sistema, já que o tempo despendido para efectuar uma tarefa tão simples como consultar o programa de uma disciplina é exageradamente elevado. Além de que a falta de orientação dentro do site faz com que o utilizador se sinta pouco satisfeito com este.

Em resumo, o sistema Sigarra apresenta uma vasta lista de problemas a nível de design de interacção, cujo motivo principal é, efectivamente, a ausência de preocupação com as necessidades do utilizador. O sistema foi desenvolvido sem se considerar o utilizador como elemento central do sistema.