05 | Emotional Design
capa do livro "Emotional Design"
Na obra “Emotional Design” (versão online - em italiano), Donald Norman defende que os objectos não valem apenas pela sua função, mas também pelo seu lado estético e pelo que representam para as pessoas que o utilizam – o lado afectivo que eles provocam. Assim, este autor afirma que existe uma componente emocional ligada aos objectos.
Além disso, Donald Norman defende que existem três níveis no cérebro, que exigem diferentes características a nível de design:
| visceral – prende-se com a aparência
| comportamental – refere-se ao prazer e eficiência no uso
| reflexo – está ligado à racionalização e intelectualização do produto
O objecto tem, também, uma componente pessoal, ligada à vida de cada um. Os nossos objectos preferidos não têm de ser objectos caros, já que na maior parte dos casos, os objectos mais queridos das pessoas são pequenas coisas – fotografias, bilhetes, livros, ... Esses objectos são um símbolo do nosso estado de espírito, são recordações de bons momentos e têm associados a si uma história.
Segundo Norman, é impossível que um objecto não disponha das três componentes do design. Além disso, existe uma ligação entre emoção e razão – estas são indissociáveis. Por isso, temos que ter em consideração que também no uso dos objectos a emoção tem um papel importante.
Um exemplo deste facto é o Mini Cooper – toda a gente sorri quando vê um, as suas formas são divertidas... este aspecto acaba por desvalorizar todos os aspectos negativos do carro, as suas falhas.
Um objecto pode ser extremamente difícil de usar, não respeitar qualquer regre de usuabilidade e, no entanto, fazer sorrir quem o usa. Por outro lado, muitas vezes odiamos os objectos com que interagimos, alguns deles altamente práticos: computadores, despertadores. Assim, concluímos que nem um objecto com um boa usabilidade é agradável de se utilizar
Não podemos deixar de ter em conta os aspectos emotivos dos objectos. A emoção é a responsável pela tomada de decisões, na percepção do mundo que nos rodeia: perigo, conforto, bom, mau, ...
O estudo do Professor António Damásio provou que as pessoas com lesões cerebrais na parte correspondente à emoção eram incapazes de escolher entre alternativas semelhantes, em que não existe qualquer motivo racional a ter em conta.
Além disso, existem reacções fisiológicas às emoções: o nó na garganta, o frio no estômago, os arrepios, água na boca, ... As emoções preparam o nosso corpo para uma resposta.
O sistema de afecto faz julgamentos e rapidamente ajuda-nos a determinar quais as coisas perigosas ou seguras à nossa volta. O sistema cognitivo interpreta e dá sentido ao mundo.
A emoção é a experiência consciente do afecto – medo, por exemplo.
A estética agradável de um produto ajuda-nos a melhorar trabalhar com ele. Quando um carro está limpo, parece mais fácil de conduzir. Quando estamos lavados e bem vestidos, sentimo-nos melhor.
Uma experiência realizada por Masaaki Kurosu e Kaori Kashimura (Japão) provou que a utilização de caixas Multibanco com botões e ecrãs mais atraentes ajudaram os utilizadores nas operações, aumentando a eficácia.
Noam Tractinsky (Israel) suspeitou disto, por considerar que os japoneses se preocupam muito mais com questões estéticas do que os israelitas e repetiu a experiência. Os resultados foram ainda mais consistentes do que no Japão.
Assim, podemos concluir que, efectivamente, a estética de um produto tem consequências na sua utilização.
Alice Isen chegou à conclusão que as pessoas resolvem os problemas mais facilmente quando estão felizes. Quando as pessoas estão nervosas ou ansiosas, sentem mais dificuldade em se concentrar no problema. Quando as pessoas estão felizes, o seu raciocínio aumenta e tornam-se mais criativas e imaginativas.
Ou seja, as pessoas felizes têm uma maior facilidade em encontrar soluções alternativas no uso de um produto, enquanto as pessoas tensas se focam na resolução do problema, ficando cada vez mais tensas à medida que falham. As pessoas que se sentem felizes são, também, mais tolerantes aos erros.
Voltemos, agora, aos três níveis do cérebro:
- visceral – automático
- comportamental – controlo do comportamento
- reflectivo – contemplativo
Cada um destes níveis requer diferentes tipos de design:
- andar numa montanha-russa
- cortar carne com uma faca afiada e uma tábua sólida
- contemplar uma boa obra de arte
As montanhas-russas são extremamente populares já que o ser humano adora o perigo, o medo. Assim, são duas as coisas que levam as pessoas a entrarem num vagão de uma montanha-russa: o medo em si, a sensação de adrenalina e a recompensa de “sobreviver” à viagem e vangloriarem-se desse feito.
a adrenalina de uma montanha-russa
Os três níveis interagem entre si, modificando-se uns aos outros. Tudo aquilo que fazemos tem uma componente emocional e racional. E, mais importante ainda, a componente emocional modifica a forma como pensamos.
Tudo aquilo que é suposto ser usado sobre condições de stress, deve ter especiais cuidados ao nível do design. A informação de como se usa o produto deve estar sempre presente, não havendo lugar para ambiguidade.
Até no método de trabalho podemos verificar a dualidade de estados de espírito e como esse facto altera o processo e ritmo de trabalho. No início de um trabalho criativo, é altamente recomendável não existir pressões relacionadas com o tempo, sendo igualmente fundamental manter um bom humor. Deste modo, facilita-se o processo criativo. Contudo, numa segunda fase, torna-se imperativo traçar prazos, para aumentar a eficácia do trabalho – na medida em que nos passamos a focar na tarefa em si e em fazer o trabalho de forma mais eficaz.
Por vezes, é necessário desenhar algo capaz de provocar sensações que estimulem a criatividade e, em certos momentos, capazes de fazer com que a atenção do utilizador se foque na execução de determinadas tarefas. É o exemplo de uma central nuclear, em que o ambiente pode ser alterado, nomeadamente através de avisos sonoros e visuais para o perigo de determinado acontecimento.
Há ainda outros objectos que realçam a componente emocional: as recordações de monumentos, tal como as réplicas. Estes são valores de baixo valor – quer monetário quer artístico -, mas para quem os detém são muito valiosos, na medida que são símbolos do objecto real e por invocaram recordações. Deste modo, podemos afirmar que os objectos têm um valor sentimental, não valendo por si só.
Outro exemplo disto são as fotografias, objectos cujo valor é quase unicamente emocional.
Também com as marcas acontece algo semelhante. Por vezes, um produto ajuda a mostrar quem somos, a forma como nos vemos. Reflectem a imagem que temos de nós próprios e transmitem isso aos outros.
Ferrari: um símbolo de ostentação
Como conclusão, torna-se cada vez mais importante no design atender às questões emocionais, já que estas são, na grande maioria dos casos, mais importantes que as questões de usabilidade.
1 Comentários:
Obrigada pela partilha! o discurso pessoal e bastante exemplificativo ajudou-me a pegar no livro, q estava há muito para ler.
7:33 da tarde
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